3.9.07

Tempo das idéias...



No curso de Letras, mais especificamente na literatura, aprendemos sobre o tempo.

Comumente, fala-se de tempo como um grande relógio que gira sempre no mesmo sentido e que divide as fases da história em três períodos: Passado, o presente e o futuro.

Nós, seres humanos nos apegamos muito ao passado, pouco vivemos o presente e desordenadamente imaginamos o futuro. Mas, quantos de nós se dá conta de que podemos pensar estas mesmas três fases, em um só dia de nossa vida?

Imaginemos que o dia é o presente, o agora, já, mas, pensemos também que a última hora que girou no relógio passou para o passado e que a próxima hora é futuro e enquanto for vivida também é presente. Parece ser meio maluca essa idéia, mas, é real.

O passado que é, inexplicavelmente, parte de nossos pensamentos e reflexões poderia ser esquecido e poucos de nós conseguimos deixá-lo para trás. O presente que, intensamente, deve ser vivido, escapole de nossas mãos como areia entre dedos e num soprar de ventos desaparece, repentinamente. E o futuro que, planejadamente, se organiza é passivo de mudanças como um grande desenho que se inicia, mas, que vai trocando formas e adequando-se de maneira singular até que seja realizado.

Na literatura as três fases se misturam. Não se identificam na história, este é o tempo das idéias, o tempo ontológico e não cronológico.



Lembro-me de um conto de Edgard Alan Poe, chamado ‘O retrato oval’. O texto publicado pela primeira vez em abril de 1842, fala da busca pela perfeição de um pintor ao dedicar-se a transferir à tela, a imagem de sua bela esposa. Dedicação de cegueira e vaidade no meu entendimento, pois, ao finalizar o quadro se dá conta de chegar diante dela e percebe que está morta!

Alan Poe, assim como Machado de Assis, jamais escreveu textos conclusivos. Impressionista como era, deixou várias portas abertas para as mais variadas conclusões de seus leitores.

Hoje, refleti bastante sobre o tempo perdido... Esse imenso relógio que gira e cujos ponteiros nos arremessa para as mais diversas direções, aprisionando-nos. A perda das oportunidades por considerar imposições sociais e culturais. Não seria mais fácil viver o tempo das idéias sem nos importar com o giro dos ponteiros?



É, como escreveu Adélia Prado ao ser questionada sobre a inspiração. Por que essa realidade quotidiana às vezes se mostra como maravilhamento e outras vezes como mera realidade opaca?... ‘Quando ela é realidade opaca é aquilo do meu verso "De vez em quando, Deus me tira a poesia e eu olho pedras e vejo pedra mesmo..." (Ausência da Poesia).

A vida é maravilhosa e o que não se pode fazer é lamuriar. Pois, como ouvi hoje: “A lamúria é oração que alimenta as trevas” e eu quero luz!

Nenhum comentário: