30.7.06

RECADO PARA UM AMIGO SOLITÁRIO

Paulinho Pedra Azul

Quando chegar na tua casa
E encontrar solidão
Lembre de mim que também vivo só
Quando encontrares a paz
Mande uma carta p'ra mim
Quero saber como fazer
P'ra ser feliz tanto assim
Uma canção deve haver
Para fazer entender
Que nada tenho a dizer
Quando o jeito é viver.

Essa música diz muitas coisas em tão poucas linhas, mas diz principalmente que devemos sempre pensar um pouco mais na dor do outro, esse outro que faz parte de nós e que nos constituí, mas que muitas vezes sequer abrimos os olhos para vê-lo, mesmo ele estando tão perto...

Hoje estou refletindo sobre alguém que está aqui dentro do meu coração, mas também está a 800 km de Brasília, alguém que tem o coração grandioso e que vive se escondendo de si mesma... Tenho pedido a Deus que fique com ela e mostre os caminhos dourados do meio, onde encontramos a paz!


As pessoas estão fugindo...
E fogem desapercebidamente de fora para dentro de si mesmas.
E estão correndo do pólo alto da razão para a pequena cidade que criaram dentro de seus 'universos particulares'.
As pessoas surtam, elas não querem mais esperar o tempo certo, pois acreditam apenas no tempo que avança pelo relógio e sequer se permitem parar para ver o sol que, sem nada cobrar, bate em suas janelas e fica lá fora, no alto à espera.
Elas estão solitárias, mas não olham ao redor do absorto que as envolvem.
Estão com medo, mas não estendem a mão aos céus.
Pedindo ajuda, mas não tiram de si o auxílio grandioso que pode ser providencial!
As pessoas se cansam, elas não dançam, não mais cantam e expulsam do coração os amores para substituí-los por dores...
Elas não sabem mais o que são flores e vivem apenas de rancores.
As pessoas estão fugindo...

26.7.06


A vida da gente é engraçada e os processos de mudança são um elencar de coisas que precisamos guardar ou descartar à medida que descobrimos o nosso querer bem por elas ou não. Costumo dizer que sei bem o que não quero mais para a minha vida, assim como penso que todo mundo sabe o que não quer, mas mesmo assim, acaba aceitando a convivência com algumas decadências.

Chega um momento em que começamos a enxergar a vida com mais grandeza e isso é o que atribuo à elevação espiritual ao tornar-se, não grandioso, mas afinado e em consonância com os ensinamentos divinos. Há que se escutar a voz do coração e perceber que temos muito de bom para deixar fluir e não existe razão suficiente para deixarmos os monstros crescerem, partindo principalmente de dentro de nós.

Pode sim, existir um paraíso de calmaria, harmônico, simplista e de amor que se expressa por meio de nossas próprias palavras, do nosso toque de afinidade com as pessoas, do sorriso e da simples ‘boa cara’ que podemos transparecer ao começarmos o dia.

Nidai-Sama escreveu que
“É realmente verdade que gratidão gera gratidão e lamúria gera lamúria. Isto acontece porque o coração agradecido comunica-se com Deus, e o queixoso relaciona-se com Satanás. Assim, quem vive agradecendo, torna-se feliz; quem vive se lamuriando, caminha para a infelicidade. A frase ‘alegrem-se que virão coisas alegres’, expressa uma grande verdade”.

“O homem depende de seu pensamento”
Meishu-Sama

24.7.06


Tenho conhecido pessoas, pessoas tristes e alegres, frágeis e fortes, sensatas e insensíveis... Concretas e abstratas.... Porém, pessoas. Pessoas que choram e sorriem, mas que buscam sabe-se Deus o que? Porque se estão felizes reclamam e quando tristes se acomodam.
Eu tenho visto pessoas, pessoas felizes que arrastam consigo flores e sóis, lírios e estrelas, palavras e discos, riscos e risos, angustias e astrais...
Eu tenho encontrado pessoas que se entristecem facilmente e que pouco enxergam a amplitude do mais, do cais, dos sais que estão às beiras do caminho. Dos ais que se escutam pelos corredores escuros e sombrios das estradas tortuosas que vão, sempre vão e não voltam mais.
Eu tenho lido pessoas, lido seus escritos, seus riscos e gritos, tenho ouvido seus sussurros, sentido seus surtos, suas febres e o zumbido curto e mudo que não se pode calar.
Eu tenho sentido pessoas em suas claras expressões de amor, mas no mais tenebroso medo do sofrer... Eu tenho dito às pessoas que de nada adianta se esconder e que a brisa suave da primavera é o soprar da própria vida que entoa um cantar para viver, viver, viver... Pra que sofrer?

20.7.06

A vida nos prega peças...
Algumas engraçadas e outras tristes demais.
E foi assim ontem, ela nos pregou duas peças tristes, trazendo-nos as partidas dos nossos amigos Vitor Athayde e Fábio Gusmão.

A morte de um deles, o Vitor, de maneira muito trágica e violenta, nos causa inicialmente revolta pelas circunstâncias em que aconteceu e nos deixa muitos questionamentos acerca da nossa própria vida, da nossa relação com as pessoas, do sentimento fraterno de solidariedade que vem sendo extinto e do medo existente entre os seres para realizar a discussão sobre o amor ao próximo, tentando não sermos ridículos, sequer ousamos falar de Deus.

Nosso amigo Vitor, companheiro de longas datas, atualmente consultor da FAO, nos deixa a marca do seu sorriso simplista, porém da sua grande vontade de mudar a condição de vida das pessoas excluídas desse país. Parceiro nosso, sentiremos saudades suas, mas não te esqueceremos jamais!

Falar do Fábio é relembrar a sua alegria de viver um dia após o outro sempre recomeçado com os ponteiros zerados. Dizia-se ateísta, mas a sua própria vida era a representação perfeita da existência divina, pois, era solidário, alegre, harmônico e despertava entre os amigos, sentimentos puros e grandiosos. Atuando fortemente na organização da II CNSAN, demonstrou o seu espírito de equipe e mais que isto, inspirou em nós a certeza de que “não podemos fazer de nosso momento mágico, um momento trágico” e que se temos um problema, precisamos resolvê-lo ao invés de sofrer por conta dele.

... É muito bom saber que, de você amigo, teremos sempre as melhores e maiores lembranças de alegria e de inesquecíveis momentos... Saudades eternas!

Vítima de um ataque fulminante do coração, às 3h da manhã do dia 19 de julho, o seu corpo será cremado hoje, em Brasília.

...E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...

Milton Nascimento

19.7.06


Ontem, dormi com a reflexão sobre o 'nada' e hoje quando cheguei aqui no trabalho, depois de fazer minhas orações matinais, sempre pego um livro chamado Alicerce do Paraíso (meio que uma Bíblia para nós Messiânicos) e faço uma leitura diária. Antes da leitura, rezo um pai nosso e peço a Meishu-Sama (líder espiritual da igreja) para que me oriente... Pois bem, hoje o texto foi A RESPEITO DO ATEÍSMO e num dos parágrafos dizia o seguinte: "Ainda nos deparamos com os seguintes problemas: Por que viemos a este mundo e que papel devemos desempenhar? Até quando poderemos viver? Voltaremos ao nada após a morte, ou existe o desconhecido Mundo Espiritual onde iremos habitar em paz? As reflexões sobre o assunto nos deixam ainda mais confusos, permanecendo tudo na obscuridade. Não há outro qualificativo a não ser o que dizem os bonzos: "A realidade é um Nada, e o Nada é uma Realidade". Vasta, ilimitada e infinita é a existência do mundo. O ser humano, com a pretensão de desvendar este mundo misterioso, vem empregando todos os meios, principalmente a pesquisa; apesar de seus esforços, só consegue conhecer uma pequena parcela dos fenômenos infinitos. Daí atinarmos com a insignificância da inteligência humana em relação à Natureza. É significativa a expressão "sombrio vazio", também citada pelos bonzos. Entretanto, a vaidade humana, em sua tola presunção, excede-se a ponto de querer subjugar essa mesma Natureza. Sábio é o homem que, antes de mais nada, procura conhecer a si mesmo, submeter-se a ela e participa de suas graças...
Creio que, de uma forma ou de outra, temos buscado nos conhecer. O que precisamos fazer, a cada dia, é fortalecer o nosso laço com Deus! Viu como valeu dormir com a reflexão? Hj, Deus me mostrou uma resposta sábia.

18.7.06

Dostoievski escreveu que "Não é o cérebro que importa mais, mas sim o que o orienta: o caráter, o coração, a generosidade, as idéias." E não quero mais ficar sofrendo por conta das avaliações que eu mesma faço de mim, levando em consideração tudo o que as pessoas (amigos ou não) me dizem.
Tudo é válido sim, as reflexões são mais que válidas. Mas, chega uma hora em que estou 'judiando' de mim e extrapolando o meu limite de pessoa que sente.
Se estou sendo rude, agressiva, peço desculpas. Essa é a minha maneira de expressar minhas idéias, meus pensamentos. Penso que não adianta mais dizer alguma coisa, pois não consigo mesmo me explicar sem parecer vitimista.



O Pintassilgo e as Rãs


Rubem Alves


Num lugar muito longe daqui havia um poço fundo, abandonado e bem escuro que alguém cavara muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para quê. Lá dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele era um lugar bom de se viver, protegido, úmido, gostoso. De um pulo, caíram lá dentro. Só que não perceberam que pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda lembravam-se das belezas do mundo de fora e morriam de saudades. Contavam estórias para seus filhos e netos.
- Quando eu era jovem, e ainda não tinha caído neste buraco...
Era assim que sempre começavam. A princípio, a meninada parava para ouvir e gostava. “Estórias da carochinha”, eles diziam. O fato é que nunca haviam estado do lado de fora, e pensavam que as tais estórias não passavam de invenções de seus avós já caducos. O tempo passou, os velhos morreram, e até mesmo essas estórias foram esquecidas. As novas gerações foram educadas segundo novos princípios pedagógicos, currículos adequados à realidade, o que importa é passar no vestibular, e acabaram por acreditar que o seu buraco era tudo o que existia no universo. Isto era científico, resultado da rigorosa análise material de seu mundo. O real era um cilindro oco e profundo, onde a água, a terra e o ar se combinavam para formar tudo que existia. As rãzinhas aprendiam que o seu era o melhor dos mundos e, na escola, aprendiam a recitar:
“Rãzinha, não verás buraco algum como este
Ama, com orgulho, o buraco em que nasceste...”
A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras, que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a este estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...
Se o buraco não era tão bom como cantava a poesia (assim diziam os ideólogos da revolução), era porque ele estava dominado pelas rãs fortes...
Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o vôo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas mais perplexas ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença do pintassilgo colocava em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso acreditar que existe um “lá fora”. Mas as rãs sabiam que um “lá fora” não existia, pois os limites de seu buraco eram os limites do universo.
O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente. Queria ajudar as pobres rãs...
Trinou flores, campos verdes, riachos cristalinos, lagoas, insetos de todos os tipos, sapos de outras raças e outros coaxares, bichos os mais variados, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens.
As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram.
Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria um lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço. Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.
- Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele... Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominante aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido...
As outras fecharam a cara e coaxaram mais grosso ainda. Não acreditaram...
O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas...
Mas tudo foi inútil, para os que não queriam acreditar.
- Este bicho é um grande enganador – eles diziam. – Sabemos que estas coisas não existem. Aprendemos em nossas escolas...
O rei reuniu seus generais e ponderou que as idéias do pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam perdendo o interesse pelo trabalho. Produziam menos. Com isso havia menos recursos para as despesas do Estado, especialmente uma ferrovia que se pretendia construir, ligando um lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas da oposição...
Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.
As rãs intelectuais, por sua vez, puseram-se a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo. O seu relatório foi longo. Nele concluíram que:
de um ponto de vista filosófico, faltava rigor ao discurso do pássaro, pois que ele mais se aproximava da poesia do que da ciência.
de um ponto de vista ideológico, tratava-se de um discurso alienado, no qual não se fazia nem mesmo uma análise crítica das condições objetivas da “sociedade ranal”.
de um ponto de vista psicanalítico, era óbvio que o pintassilgo sofria de perigosas alucinações que, dado o seu conteúdo, poderiam se transformar num fenômeno de massas.
Observaram, finalmente, que dadas as evidências o pintassilgo se constituía num grave perigo tanto para a cultura como para as instituições do mundo das rãs. E com isso pediam das pessoas de boa vontade e responsabilidade as providências devidas para erradicar o mal.
O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda pois, para além de suas discordâncias conjunturais, mostrava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranqüilidade da família ranal.
Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e colocado no Museu de História.
Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara.
Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:
- Que é aquilo, professora?
- É um pintassilgo – ela respondeu.
- E que coisas estranhas são aquelas nas suas costas? – ele perguntou.
- São asas...
- E para que servem?. – ele insistiu.
- Para voar...
- E nós, voamos?
- Não – respondeu a professora. – Nós não voamos. Nós pulamos...
- E não seria melhor voar?
A professora compreendeu então, com um discreto sorriso, que um pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.


In: ALVES, Rubem. Estórias de bichos.
11.ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 27-32.


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração ...

Para a Lu...

17.7.06

Cansei de querer ser a mulher maravilha e salvar pessoas em meu avião invisível. Penso que ajudar pessoas, hoje em dia também já é algum defeito, e que de alguma maneira causa danos emocionais. Querem me furtar o direito de ser altruísta, capacitando-me como alguém que se envaidece ajudando o próximo e sinceramente, estou cansada de ter que me justificar diante das impressões humanas.
Já faz alguns meses que decidi não mais sofrer por conta das pequenas coisas, dos desentendimentos e conflitos, desgastes de opiniões, mas o que tenho a confessar é que, algumas pessoas te o dom de persuadir o meu entendimento sobre as coisas.
O meu espírito não é mais para isso e sofrer não condiz mais com a minha real condição de pessoa que está buscando crescer espiritualmente.Por isso, creio que o melhor seja relevar tudo que me é dito, mesmo que não me faça bem à alma. O trabalho da humildade consiste também em deixar com que os outros façam seus julgamentos por conta própria, agora, assimilá-los... Isso já é outra coisa.
A oração que parte de um coração tranqüilo pode salvar melhor do que as palavras ditas num momento de insensatez.
Estou parada no reflexo de um tempo novo.Preciso de paz e não de turbilhões...


A PORQUINHA DE RABO ESTICADINHO

Rubem Alves

Ela estava feliz. Morava num lugar lindo. Havia árvores, gramados, riachos e cavalos, vacas patos, perus, galinhas. Comida não faltava. E tinha muitos amigos.
Agora ia ser mãe. Sua barriga estava enorme. Mal conseguia andar. E as visitas não paravam, todas lhe desejando boa sorte.
_ Nossa Senhora do Bom Parto que lhe de boa hora, diziam ao se despedir.
Era como se todos estivessem grávidos junto com ela...
Até que numa noite de lua cheia, ela percebeu que a hora havia chegado. Não, não iria para maternidade alguma. E nem precisaria de médico ou parteira. Sabia se virar sozinha. Fora assim com sua mãe, com sua avó, sua bisavó...Todas tinham tido muitos leitõezinhos sem problemas. Pois é, Gertrudes era uma porca... De manhã a notícia já se espalhara. O galo cantava do alto de um galho:
_ Os porquinhos nasceram...
E as galinhas d`angola acrescentavam:
_ São nove, são nove, são nove...
A bicharada toda veio. Já haviam visto aquela cena dezenas de vezes. Mas nunca se cansavam de vê-la de novo.
Leitõezinhos, bocas grudadas nas tetas: certamente se sentiam no céu. Nada sabiam do mundo. Nada sabiam da mãe. Nada sabiam de si. Mas sabiam que aquilo era bom.
Iguaizinhos. Bem, nem todos. O burro, discreto observador, notou que na fileira de rabinhos enrolados como mola havia um esticado como um prego.
Os porquinhos, é claro, não se davam conta disso. Eram só boca; só lhes interessava mamar. Além do que seus olhinhos ainda estavam fechados. Não podiam nem comparar e nem perceber as diferenças. Eram todos felizes.
Mas o tempo passou. Os olhinhos se abriram. E aconteceu que, certo dia, um deles se deu conta daquilo que o burro percebera.
_ Vejam só _ disse ele espantado_, Lili é diferente. Nós temos rabos enroladinhos. Ela tem rabo esticadinho.
Se os rabos enrolados são melhores que os esticados, isso é assunto que ninguém discutiu. A única coisa que importava era que havia oito iguais e um diferente. E, de repente, havia oito pares de olhos olhando o rabinho de Lili.
E isto doeu muito, porque todos queremos ser iguais: falamos coisas parecidas, rimos risos parecidos, comemos coisas parecidas, vestimos roupas parecidas. E gostamos de pertencer a grupos de pessoas que se parecem: clubes, torcidas de futebol, igrejas, escolas...
Quem não pertence ao bando dos iguais fica fora. E quem fica fora tem vergonha. Se esconde.
Lili ficou assim. Não queria mais brincar. Ficava sozinha, em casa, assentada sobre o rabinho, pensando no rabinho, com raiva do rabinho.
De noite rezava:
_ Papai do céu, me dá um rabinho enroladinho... Mas parece que papai do céu pertencia ao time dos oito, porque nada fazia para ajudar Lili.
Até que não agüentou mais, chorou para a mamãe:
_ Eu... eu queria ter um rabinho enroladinho, ser como os outros _ ela soluçou.
_ para que serve um rabo enroladinho? _ lhe perguntou a mãe.
_ Serve par ser olhado e pros outros dizerem que é igual _ ela respondeu.
D.Gertrudes resolveu tomar providências. Começou por modificar a dieta. Se o corpo é feito com as coisas que comemos, ela pensou, então se comermos coisas enroladas e que dêem voltas é certo que o rabo se enrolará. E Lili passou a comer broto de samambaia, molinha de chuchuzeiro, rodelas de cebola, e se os carocóis não tivessem fugido, teriam sido transformados em sopa. Mas não adiantou. A comida não modificou o rabinho: continuava esticado como sempre.
D.Gertrudes então resolveu apelar para a sabedoria das comadres, que lhe ensinaram uma simpatia: besuntar o rabo com suco de cipó misturado com banha de sucuri derretida, enrolado em pau torto e amarrado com barbante trançado.
_O que faz efeito _ elas disseram _ são as voltas do cipó, o enrolado da sucuri, as curvas do pau, as tranças do barbante. Apertada em tanto enrolo, não há coisa reta que resista...
E assim fizeram. Por oito dias, porque “8” é o número mais cheio de curvas. Na hora de se cortar o barbante, “6” da tarde, porque “6” se parece com rabo de porco enrolado, visto por trás, foi aquela “torcida” (“torcida” também era importante, por ajudar a torcer). Todo mundo na expectativa. E foi o triunfo: o rabinho ficou enroladinho. Só que ninguém sabia que era porque a banha da sucuri ainda estava dura. Bastou que Lili saísse pulando de alegria para que o rabo esquentasse com a circulação do sangue e a banha se derretesse e o enrolado se esticasse... Lili foi dormir aos soluços.
D.Gertrudes resolveu abandonar a supertição das simpatias e apelar para a ciência. Se existe um meio técnico para se enrolar cabelo que nasceu reto, porque não se poderá fazer a mesma coisa com um rabinho de porco?
No dia seguinte, mãe e filha foram as primeiras no salão do cabeleireiro.
_ Uma permanente no rabinho de Lili _ disse D.Gertrudes, decidida.
O cabeleireiro nem discutiu. Pôs Lili assentada em posição estranha, bumbum para cima, coberto com capacete elétrico. O resultado foi um espanto: rabo encrespado, enrolado, meio assado... mas qualquer sacrifício se faz para se ser como os outros...
Voltaram as duas, triunfantes, para casa. Lili sacudindo orgulhosamente seu rabinho novo, sem se agüentar de ansiedade para exibi-lo aos seus irmãos. De longe ela ouviu sua gritaria: brincavam numa poça d`água. Não teve dúvidas: saiu disparada e pulou dentro. Queria dizer-lhes:
_ vejam meu rabinho, igual ao de vocês... Mas não deu tempo. A água acabou com tudo, desfez a permanente, e o rabinho esticou de novo.
Foi então que D.Gertrudes ouviu falar de um novo jeito de fazer as coisas. D.Arara, multicolorida, de fala fácil, dizia que tudo é uma questão de cabeça. E filosofou que tudo que é torto se conserta com pensamentos retos, e tudo que é reto se enrola com pensamentos tortos.
_ O que importa _ ela dizia _ são os pensamentos positivos. Os pensamentos positivos têm força. Portanto _ concluiu _ se Lili tiver força de vontade (isto é muito importante!) e diariamente só pensar no seu rabo enrolado, ele acabará por obedecer aquilo que a cabeça manda.
Começou então para Lili um regime novo. Não de comidas, mas de idéias, assentada diante de D.Arara, que lhe fazia longos e encrespados trinados:
_ Prrrrrrrrrrrtaco-tataco, prrrrrrrrrrrrrrrrrtaco-tataco... Mas Lili se cansou, desacreditou, abandonou... o tempo passou sem novidades.
Até que uma coisa nunca vista aconteceu. Chegou na fazenda um circo, com palhaços, equilibristas, mágicos e trapezistas, algodão doce colorido e pipoca de mel e sal. Foi aquela alegria e naqueles dias se esqueceram todas as tristezas e a bicharada só falava do mundo maravilhoso do circo. Até mesmo Lili se esqueceu do seu rabinho esticado.
_ mas _ que pena! _ as coisas boas não duram para sempre. Foi chegando o momento em que o circo iria embora, e mesmo antes da hora, já todos sentiam saudades. Chegou a hora de dizer adeus.Mas, _ oh! Surpresa _ em meio ao último espetáculo, o dono, de fala enrolada, anunciou uma coisa que ninguém esperava:
_ Respeitável público! Nosso circo está á procura de dois jovens que desejem se tornar artistas, e estejam prontos a correr o mundo par fazer as pessoas felizes. Amanhã, bem de manhã, entrevistarei os candidatos desta fazenda, se houver...
Foi um rebuliço. Os irmãozinhos de Lili foram, os primeiros da fila.Sorriam, agitando seus rabinhos enrolados. Na verdade riam com a cara porque riam com o rabo. Para eles não havia no mundo nada que fosse mais belo que um rabinho enrolado. (E, diga-se de passagem, eles não são os únicos a pensar assim. Há muitas pessoas que passam a vida toda namorando seus próprios rabos. E por isso não enxergam muito longe...) O dono do circo examinava a todos atentamente. Até que parou diante de um deles e disse:
_ É este p primeiro escolhido. Perfeito para um palhacinho. Este rabinho enrolado fará todos darem risadas. Aí parou pensativo.
_ Mas não vejo ninguém que sirva para trapezista, uma menina... Os trapezistas vivem sobre o perigo, sabem que a vida não é palhaçada engraçada, nem tudo é riso. Nunca olham para o próprio rabo, atrás, mas sempre para frente. Quem olha para trás cai sobre o abismo e morre... Eles têm um rosto diferente, um sorriso que não é risada, misturada com um pouquinho de tristeza. E é por isso que os outros os amam de um jeito diferente: eles riem do palhaço, mas voam com o trapezista. Um trapezista a gente conhece pelo jeito de olhar...
Lili estava longe. Não entrara na fila. Sabia que não seria escolhida. Ouvia. E pensou: “De fato, eu não seria uma boa palhacinha. Mas como eu gostaria de ser trapezista”.
O dono do circo olhava ao redor, procurando. E seus olhos se encontraram com os de Lili.
_ Menina, venha cá. Que é que você tem nos olhos? Parecem olhos de trapezista. Você não gostaria?
_ Mas... o meu rabinho _ ela disse quase pedindo desculpas.
_ Quem se interessa por isso? Quem tem rabo enroladinho passa o tempo todo olhando ou para trás ou para o espelho. Mas quem não tem olha para frente, para cima, para o vazio. E é isso que torna belas as pessoas: não o que elas têm sobre a pele, mas o que têm dentro dos olhos... Lili sorriu e disse que sim.
-Transformou-se na trapezista de olhos tristes, que todos amavam. E nunca mais se preocupou com o seu rabinho.

14.7.06



Parece que a gente não consegue se acostumar com tempos de pura calmaria... Se isso acontece, fica meio sem graça e começamos a pensar... "o que fazer hoje?". Ainda pouco, estava pensando sobre isso, quando estamos sobrecarregados de trabalho, cheios de dividas, doentes ou vivendo sob a pressão de algum problema, estamos nos lamentando... Ohhhh vida cruel! Mas, se por acaso, nos sentimos tranquilos... Falta algo para nos abalar as estruturas! Então ficamos com a sensação de vázio. Tenho vivido dias de paz interior, não sinto-me completamente feliz, pois a humanidade não está. São Paulo está virada num caos completo e hoje pela manhã ouvi alguém dizer que "todos os agressores deveriam morrer, como morrem os terroristas" e então pedi a Deus que perdoasse o que estava sendo dito.
O que tem sido feito aos que agem como terroristas? Não é uma questão de defesa minha, mas será que ao invés de construir novos presídios, o melhor não é buscar a construção de um momento novo? Dar direito de voz às pessoas e reconhecê-las como seres de partículas divinas que também possuem missões a serem desempenhadas no mundo? Que voz é essa que tenta falar por meio da grandiosa destruição que vem aparecendo com frequência em tantas cidades do mundo e que tipo de entendimento temos tido disso?
Olho daqui, estou sentada em minha mesa de trabalho, pela janela vejo o sol e no pátio, os seguranças se organizam. Eu vejo o sol... e quantos mais conseguem ver o sol?

12.7.06

PRIMEIRA CHAMADA

No dia 25 de abril último, por minha única e completa iniciativa, entreguei um exemplar do livro Digerindo a Bipolaridade ao Presidente Lula. Quero dizer a todos os que já leram e aos que não leram, mas, que um dia possivelmente possam vir a ler, pois ninguém está isento de ser um portador do transtorno bipolar (como eu sou também), que sempre tive muito claro no meu coração qual o objetivo principal dessa obra que é única e exclusivamente escrita com o principio de AJUDAR PESSOAS que acordam do pesadelo de ser um incompreendido SER e passa a TER um diagnóstico nas mãos, saindo em busca de explicações sem conseguir encontrá-las.

O meu encontro com os primeiros capítulos do livro foi uma lua de mel comigo mesma, uma noite de muitas lágrimas, sentia-me como quem se encara num profundo espelho de tortuosas verdades, ali no escuro absorto do quarto, mas com o ‘dar de frentes’ com a real existência de um fato que até então considerava uma marca de ‘personalidade’, uma característica do signo ou quem sabe um simples ‘jeito de ser’.

Minha amizade ‘virtual’ porém, espiritual com Alexandre Fiuza não tardou. Afinal, eu precisava ter um contato com esse ‘Rambo’ sonhador, com o corajoso contador de suas experiências e assim o fiz. De lá pra cá, embora nossos desencontros de opiniões, nós nos divertimos muito, seguramos nossas ondas emocionais, nossos medos... E eu, quis sim, que o Presidente Lula, um homem que considero um lutador ‘aprendiz de vencedor’ como o meu amigo Alexandre, também recebesse um dia um exemplar de um livro que me trouxe tantos benefícios e por isso, o fiz.

Nunca, em tempo algum, pensei em abandonar essa batalha de avançar, no sentido de ajudá-lo na publicação da 2a. edição do livro e ele, nunca se utilizou dessas pequenas coisas para se promover ou tentar algo mais. E é em nome da sua dignidade e luta e por já tê-lo visto correr aqui e acolá, atrás de patrocínios e tudo o mais, que estou gerando essa chamada:

VAMOS AJUDAR O ALEXANDRE A PUBLICAR NOVOS LIVROS!!!

Se conseguirmos colocá-lo em foco, geraremos pedidos de livros e isso fará com que pessoas se interessem em patrocinar, que sejam, pelo menos alguns 1000 livros.

A minha primeira chamada é: para levá-lo ao Programa do Jô, por exemplo, precisamos que algumas pessoas (dez ou quinze pessoas) enviem e-mails através da página do Jô num espaço de seis ou sete dias falando do assunto, do autor e do interesse. Detalhe: tem que ser pessoas de diversos lugares e não devem identificar-se como amigos seus, mas como interessados no assunto; afinal o programa vive de Ibope.

Conto com vocês!
Beijo no coração

6.7.06


Os dias passam lentamente e com eles, a cada manhã, tenho unido os ponteiros do relógio na ânsia demasiadamente louca, porém, sensata de recomeçar. Minha vida tomou um novo sentido e agora tenho muito mais clareza dos meus propósitos e objetivos. Li há dois dias atrás, um ensinamento doutrinário que dizia, dentre outras coisas, o seguinte: “Aguardo o momento oportuno, sem me apressar...” e é exatamente o que tenho feito.

Tenho valorizado mais os detalhes da vida e as pequenas coisas hoje fazem diferença no meu cotidiano. As pessoas têm especial valor para o meu coração, porém consigo fazer por elas, o que não fazia antes ou até fazia, mas não de maneira direcionada.

Eu tenho curado muitas feridas e isso tem feito com que eu me torne uma criatura de aura mais espessa junto de Deus, principalmente.

O que sinto é uma vontade imensa de dizer isso a todas as pessoas que vejo dando voltas ao redor de si mesmas ou que de uma forma ou de outra, estão sempre buscando uma maneira para resolverem suas próprias questões. Quem sabe, fosse mais simples desligarem seus pensamentos de seus umbigos e pensarem de ampla forma? É difícil alcançar essas pessoas, mas é fácil ver o quanto já estive vivendo da mesma forma que elas. Por mais amor que eu tenha por elas, fico sempre à espreita, esperando o momento certo e oportuno para mostrá-las a minha história real, a minha felicidade e o meu caminho para a prosperidade. Assim, por meio do amor, consegue-se alcançar pessoas e levá-las à cura e elevação de seus espíritos, tornando-se pessoas paradisíacas, de um mundo paradisíaco que pode ser construído a partir do nosso próprio interior, com a inspiração da paz e das coisas boas....

SER FELIZ passa sim por TER consciência e vontade, fé e coragem de mudar...