28.8.07

Que seca é essa?



Sem falsa modéstia? O céu de Brasília é um dos mais belos que já vi, mas nos últimos meses estamos vivendo aquela fase estranhíssima da seca. E em todos os anos penso que é o pior deles, porque a impressão que tenho é de que estou em meio ao deserto, embora, nunca tivesse estado em um.



A paisagem é a mais deprimente possível, os gramados estão acinzentados, as queimadas tomam conta do parque nacional e um enorme nevoeiro se sobrepõe ao asfalto. Faz um calor horroroso e tudo é seco, tudo mesmo, desde as árvores até os nossos lábios. Eu sofro nessa época demais, meus pés estão rachando e chegam até mesmo a sangrar. Não há água que chegue ao organismo para dar conta da sede que a gente sente. Além disso, não venta durante o dia e à noite a gente enche os quartos de toalhas e bacias d’água pra tentar amenizar a secura.



Ontem, estava na Igreja e percebi que até para entoar uma oração a boca fica sem saliva e daí comecei a pensar como ficam as pessoas no nordeste? Vi na TV uma reportagem sobre a seca no Piauí e uma senhora chorando pela falta de água. Deus, deve ser muito triste, pois, aqui temos água pelo menos nas torneiras e nos chuveiros, enquanto outras pessoas sequer conseguem água para beber... E ainda ficam discutindo a transposição do Rio São Francisco? Literalmente, querem ver as pessoas morrerem de sede em frente ao mar, neste caso, em frente ao Rio. Tudo bem que os ribeirinhos, agricultores e índios possuem os seus direitos sobre as áreas que habitam e trabalham, mas, é tão contraditória e polêmica essa discussão.



Aqui, ainda espera-se a chuva, mas, por lá sabe-se Deus quando vai chover! Penso ser insuportável a dor de não ter água. Chego a lembrar de um trecho de Morte e Vida Severina em que João Cabral descreve o abandono da terra que nada mais pode oferecer:

“Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra”

E que venha a chuva em Brasília para acalmar os gramados, corações sofridos e flores, mas, que Deus tenha misericórdia do bondoso povo nordestino que o desespero da seca e da fome consome.



Que venha chuva e seja a vida!

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