19.8.07

Quase tudo...



Entre outros, também estou lendo o livro de Danuza Leão ‘Quase Tudo’. As autobiografias não são os meus prediletos, mas, nem sei se por falta de opção ou se por vício, acabei pegando o livro numa prateleira do apartamento em que estava hospedada em Fortaleza e, num dia de uma gripe dolorosa, comecei a folhear e devorei três capítulos.

Nenhuma contrariedade às autobiografias, mas, nunca me dediquei aos best sellers escritos com fins, puramente, financeiros. Adepta dos autores ‘sem conclusão’ como Machado de Assis, Cabral de Melo Neto, Kafka, James Joyce, Alan Poe, Cervantes e tantos outros, não consigo ler os escritos de Paulo Coelho, Jô Soares e Bruna Surfistinha, por exemplo.

Já li outras como ‘Memórias de minhas putas tristes’, de García Marquez. E por que ler Danuza Leão? Boa pergunta para a qual encontrei algumas “justificativas” para estar lendo. A mais importante delas é o fato de se tratar de autobiografia de uma figura brasileira que no decorrer da história faz paradas para contar fatos da história e isso pra mim é fabuloso! Além disso, discorre sobre fatos da vida de uma mulher cheia de idéias, fascinada com a vida e que saiu atrás de realizar seus sonhos. Suas diferenças e seus medos não ficaram escondidos, da mesma forma que não se ocultaram suas realizações.

Danuza irmã de Nara, freqüentadora da praia de Copacabana nos áureos anos do Hotel Copacabana Palace, amiga de Vinícius e Tom, jurada de Flávio Cavalcante, esposa de Samuel do Última Hora.... Ditadura militar e medo, política e devaneio dos anos de exílio. Foi ai que me identifiquei com a história vivida e relatada por Danuza Leão.

Na verdade, sempre tive vontade de ter vivido em meados dos anos 60. Nasci em 1968 o que não me deu a oportunidade de vivenciar o período, é claro! Mas, a história vivida no Brasil naqueles anos é, para mim, além de repressiva, fascinante. Quando faço uma comparação dos anos passados com os dias de hoje, consigo perceber quantas coisas o povo brasileiro já conquistou e ainda, não se dá conta. Quantas vozes estão sendo ouvidas (embora reconheça que existam tantos excluídos), mas, nos aspectos de censura, principalmente, muito foi alcançado, inclusive pela imprensa.

Pessoas foram exiladas e não se tornaram heróis de um povo, como Josué de Castro e Betinho, por exemplo. Outro dia, alguém entrou na minha ex-sala de trabalho, olhou para a foto de Josué de Castro e me perguntou quem era. Eu fiquei um pouco triste e meio inconformada, afinal Josué de Castro foi quem primeiro denunciou a fome como uma epidemia no Brasil e como não conhecê-lo? Mas, tudo bem, acabei entendendo que a situação do Brasil, mesmo que criticada por muitos, é pouco entendida e pesquisada. Os livros são ferramentas cujo acesso é restrito de muitos, porém, o interesse pela pesquisa poderia ser sentimento cognitivo do ser humano e não é por uma série de outras razões.

Hoje, pouco é divulgado sobre períodos importantes da história, o que torna as pessoas enclausuradas em si mesmas e fomentadoras da crítica que se propaga na mídia. O jovem atual está bastante ligado à internet, o que não significa estar envolvido na pesquisa e no conhecimento geral que trata o passado, o presente e o futuro como conseqüência.

Até aceito, embora não entenda, que seja interesse de alguns investigar, por conta própria, a história, porém, o sentimento intrínseco de quem critica o Brasil deveria ser o de, também, percorrer os caminhos que nos trouxeram até os dias atuais.
E eu levaria dias escrevendo sobre isso, até porque, comecei falando sobre estar lendo a autobiografia de Danuza e já estou falando de acesso ao conhecimento e interesses pessoais...

Descobri que o livro de Danuza não é só uma autobiografia que reproduz a história individual de uma mulher brasileira, nascida numa família de classe média-alta e que buscou realizar seus sonhos. O livro de Danuza reproduz períodos importantes vividos no Brasil, em que vozes foram caladas e vidas foram restringidas.

Estou bem perto de terminar a leitura e recomendo aos meus amigos que precisam reforçar as iniciativas de (re) conquista, começo e acima de tudo, a utopia.

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