16.10.06

O livro do desassossego (Fragmento I)


"O coração, se pudesse pensar, pararia."
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
Fernando Pessoa

5 comentários:

Caroline Rodrigues disse...

De qual livro do Fernando vc tirou esse texto? Eu adoro o Fernando e adorei o texto.
Bju e boa semana!
;)

Erlen Matta disse...

Oi Carol!
Tirei do livro do Desassossego, Fragmento I... Eu também adoro Pessoa.
Beijo e boa semana pra vc!

Anônimo disse...

EU gosto da coisa de "um passo de cada vez"!!!

Erlen Matta disse...

Esse é Pessoa...

Beijo!

Lucilaine de Fátima disse...

Erlen,
Tenho este livro aqui e Bernardo Soares realmente foi uma construção genial de Fernando Pessoa. Poucas pessoas como Fernando Pessoa e Arthur Schopenhauer conseguiram enxergar a vida como ela realmente é. Sofro com os dois, mas, aprendo...rs
Com eles aprendi que o grande mérito de qualquer ser humano é enxergar a vida como ela é e não se desesperar...
Bjs,
Lu