24.9.07

Vida em prosa

Meu pai parece viver dos momentos que já se passaram. Não sei bem se é característica da idade, mas, ele lembra de umas coisas do passado que chega a tocar fundo no coração da gente.

Estamos fazendo uma pequena reforma na casa e hoje, ele disse ao rapaz que está pintando as paredes que olhando ele trabalhar, lembrou-se de quando trabalhava num velho estaleiro no Rio de Janeiro.



Eu estava secando os cabelos e desliguei o secador, pois, quis ouvir o que iria contar. Começou dizendo que o trabalho era penoso, que precisava acordar de madrugada para chegar ao cais do porto, pegar a barca que os levava até o návio ancorado no estaleiro. O trabalho era pesado, cansativo, lidava com materiais químicos fortes e carregava tanto peso que, muitas vezes, sentiu o gosto de sangue na garganta... os olhos ardiam com a quantidade de produtos químicos que eram usados e que acha, inclusive, que tem problemas na visão por conta disso. É possível mesmo!

O grande alívio que tinha era quando ouvia a sirene que anunciava o fim do expediente... Daí, era uma alegria só. Todos vinham na barca felizes da vida com o retorno pra casa. Mesmo que essa alegria durasse apenas mais algumas horas, já que no dia seguinte era preciso voltar.



Contou que os supervisores circulavam pra lá e pra cá, sempre dizendo que aquele era um trabalho para ‘machos’. Meu pai disse que para aguentar tudo aquilo ali, somente por muita necessidade mesmo.

Agradeceu a Deus, no dia em que meu avô foi transferido para Brasília e ele teve que largar aquele sacrifício.

As histórias da vida do meu pai não são as mais felizes, mas, ele conta com alegria que se mistura ao cansaço e o sofrimento, o que me faz refletir sobre a vida suave e libertária que nos proporciona...

Ainda contarei mais histórias de meu velho pai... Quem sabe um dia, num grande livro!

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